A história do Concelho de Mafra é uma longa viagem no tempo. Desde o Paleolítico, guarda memórias de invasões, conquistas e reconquistas. Conta histórias de reis e rainhas, das suas promessas, dos seus passeios e fugas apressadas.
A actual diversidade de recursos naturais, arquitectónicos e arqueológicos dispersos pelas 17 freguesias do Concelho de Mafra resulta de um longo passado sucessivamente ocupado por diferentes povos, que foram deixando as suas marcas na paisagem.
No lugar da Seixosa, Freguesia da Encarnação, onde outrora existia uma praia, foram encontrados vestígios arqueológicos do período paleolítico, que indiciam uma das mais antigas presenças humanas na Europa, referenciados em museus tão importantes como o do Homem, em Paris. Um outro exemplo da ocupação do litoral do concelho durante a pré-história é o concheiro da praia de São Julião, na Freguesia da Carvoeira, ocupado por comunidades mesolíticas. Apesar de a maior parte dos vestígios deste período terem ficado submersos pelas alterações da linha da costa, este concheiro permitiu documentar o tipo de alimentação e de recursos do homem em 7000 a.C.
Durante o Neolítico (5000 a.C.), o aparecimento de comunidades agropastoris e das novas técnicas de trabalhar a pedra levaram à permanência de pequenos grupos em locais estratégicos com boas condições de recursos alimentares e de defensabilidade.
Exemplo de um destes povoados é o Penedo do Lexim, na Freguesia de Igreja Nova, reconhecido como um dos pontos-chave para a compreensão do Neolítico e da Idade do Cobre na Península Ibérica. Utilizado durante o Neolítico final, Calcolítico pleno e Idade do Bronze, ali foram recolhidos, destes períodos, vários tipos de artefactos relacionados com o quotidiano de um povoado fortificado. Do Neolítico estão também datadas outras estruturas, hoje desaparecidas, como o castelo de Cheleiros ou monumentos dolménicos, que apenas se conservam na toponimia, em Antas-Azueira e Antas-Gradil.
Para além do Penedo do Lexim, também na Serra do Socorro e na Tituaria - sepultura colectiva - foram encontrados vestígios do Calcolítico.
Para além do Penedo do Lexim, também na Serra do Socorro e na Tituaria - sepultura colectiva - foram encontrados vestígios do Calcolítico.
Ocupação romana
Lápides, aras, sepulturas, moedas, tulhas, cerâmicas e vidros da época romana têm vindo a ser encontrados em quase todas as freguesias do concelho.
Além dos achados avulsos, a maioria datados do século I ao IV, existem outros vestígios que ainda permanecem nos locais de origem. É o caso da via romana que ligava Sintra a Peniche, atravessando o Concelho de Mafra, e que passava por Cheleiros, Mafra, Ericeira, Paço de Ilhas e S. Domingos da Fanga da Fé, e da qual se conservam partes do troço. Em Cheleiros e na Carvoeira encontram-se duas pontes que se julga terem sido construídas pelos romanos.
Em Santo Isidoro, no lugar do Crato, ainda permanece uma ponte e quase 100 metros de estrada empedrada, que vai resistindo à passagem dos tractores agrícolas, e que se julga pertencer à via que ligava Sintra a Peniche (ver passeios). Nesta freguesia, um importante centro agrícola durante a romanização, foram encontradas várias moedas com o cunho de imperadores romanos - Augusto ( 27 a.C. a 14 a.C.), Cáudio (41-54 d.C.) e Magnus Máximo (383-388 d.C.).
Desconhece-se a importância deste concelho dentro do Município Olisiponense, mas a sua natureza agrícola decerto contribuiu para o forte povoamento no período romano. Vinho, azeite e produtos hortícolas seriam facilmente comercializados através da rede viária e das
ribeiras de Cheleiros, Ilhas e Safarujo, que foram navegáveis até à Idade Média.
ribeiras de Cheleiros, Ilhas e Safarujo, que foram navegáveis até à Idade Média.
Época Medieval
A ocupação visigótica no concelho a partir do século V, até à chegada dos muçulmanos em 711, poucos vestígios deixou. Desta época apenas se encontrou uma lápide, hoje no exterior da igreja matriz de Cheleiros, um friso em Alcainça e ainda um tímpano paleocristão, adaptado a um banco de jardim que se encontra no interior da Quinta da Corredoura, em Mafra.
Apesar de terem permanecido até 1147, altura em que D. Afonso Henriques conquistou a Vila de Mafra, dos árabes também não restam muitos vestígios ou documentação. Supõe-se apenas que algumas das igrejas actuais já foram mesquitas. É o caso da matriz de Cheleiros, igreja de Santo André e santuário da Serra do Socorro. A Câmara Municipal de Mafra tem, no entanto, vindo a promover várias campanhas de escavações arqueológicas, nada tendo sido comprovado a respeito da origem muçulmana destes templos.
Arquitectura Manuelina
A partir da reconquista cristã, e com a doação de foral pelo bispo de Silves D. Nicolau à Vila de Mafra em 1189, inicia-se uma nova etapa da história do concelho.
Um dos reinados que a partir de então mais influências deixou na arquitectura religiosa foi o de D. Manuel I. O estilo manuelino está presente em muitas igrejas, como a de Nossa Senhora da Oliveira, no Sobral da Abelheira, da Nossa Senhora do Reclamador, Cheleiros, da Nossa Senhora da Conceição, Igreja Nova, de São Miguel, Milharado, de Santa Eulália, Santo Estevão das Galés, ou de São Silvestre, Gradil. Os vestígios desta arquitectura fazem-se especialmente notar nos portais, abóbodas, pias de baptismo e de água benta e em alguns lavabos. Durante o período manuelino reformulou-se a nível nacional todos os forais concedidos a partir do século XI ao século XV. Entre 1513 e 1516, D. Manuel reforma os forais de Mafra, Ericeira e Cheleiros, e em 1519 concede foral a Enxara dos Cavaleiros e confirma foral do Gradil doado por D. Afonso IV em 1327. Com a reforma manuelina, os concelhos que receberam foral foram obrigados a construir um pelourinho, e os que viram o foral confirmado tiveram que renovar os seus pelourinhos.
Símbolos do poder judicial, passaram a ostentar editais e ordens e notícias vindas da Corte. Foram sofrendo grandes alterações e já não se encontram nos lugares de origem, estando apenas alguns pormenores adaptados.
O fuste do pelourinho original de Cheleiros ainda pode observar-se no cruzeiro do adro do Matriz, tal como o de Enxara dos Cavaleiros, a única parte que ainda resta. O de Mafra pensa-se ser um substituto de um erguido na época medieval e encontra-se defronte do Museu Municipal. O da Ericeira foi recuperado em 1924, salvando-se apenas a coluna, o capitel e o ornato.
Se o reinado de D. Manuel I mudou a cara ao concelho, o de D. João V não ficaria atrás, especialmente no que se refere à Vila de Mafra. Para além do Convento, a região ganhou um jardim (Jardim do Cerco) e um parque natural e de caça (Tapada de Mafra).
Empreendimentos que se arrastaram pelos reinados de D. José I (terminou as obras do Monumento), D. João VI (decorou o interior dos aposentos régios) e D. Fernando II (reformulou o Jardim do Cerco). O Concelho de Mafra conta histórias de reis e rainhas, das suas promessas, dos seus passeios e fugas apressadas, de conquistas e reconquistas, de invasões muçulmanas e francesas, de feiras e mercados, de artes e ofícios. Passo a passo, freguesia a freguesia, aqui se contam algumas dessas marcantes histórias.
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